São tempos idos, tempos que já lá vão. Ó! Como é tanta a saudade que eu tenho daqueles tempos de outrora.
Velhos e novos lá íamos de cesta ou balde e tesoura ou navalha na mão.
Negras e loirinhas lá iam caindo, no cesto ou balde, no bucho do velho, ou no do jovem , menino ou menina.
Eram tempos de festa. Toda a gente alegre cantava, um bago tragavam e uma cantiga cantavam. E o dono muito aflito ao vento lançava:
“Cantai, meninas cantai! Que o vosso canto tem encanto! Cantai, cantai até fartar! Cortai, cortai as minhas uvas sem parar.
Eu o ouvia, ouvia e sorrateiro baixinho dizia:
__Canto, canto! Agora posso cantar! A minha pança há muito que está cheia das que te vinha roubar pelo luar da Lua cheia.
Ao luar algumas vim roubar, E que rico paladar elas tinham! Sabiam-me muito melhor roubadas que dadas.
Pela noite vinha a pisa. Ao ritmo de “esquerdo e direito” da voz de comando, lá íamos marchando.
Lentamente, milímetro a milímetro, lá íamos avançando.
Já depois de bem pisadas, com as pernas de vermelho pintadas começava a grande festa para qual a festança do dia tinha sido apenas um aperitivo.
Ao som do realejo, acordeão ou concertina os magalas improvisados acompanhavam com cantigas em voga.
Mais ou menos afinados, cantávamos, cantávamos. Mas às tantas lá se ouvia uma arranhadela desafinada saída da garganta de alguma boca desdentada.
Era o cantar de algum Manel, Tonho ou Zé, que desdentado desafinava pois que para dentista o seu magro pré não chegava.
No dia seguinte era hora da repisa. Com a lagarada mais aguada a tarefa era mais simplicada.
Toca a marchar, Toca a marchar! Mas as pernas cansadas a marchar se recusavam. A cabeça doía, ainda ressentida da ressaca da véspera, provocada pelo vinho do garrafão, que regou o bom petisco: presunto, chouriça, ou salpicão.
Para carne do talho não havia tostão. Mas havia bons enchidos, boa broa, ou bom pão com mistura de trigo e centeio.
Ainda meio-dia não tinha dado o relógio da torre e já andávamos todos dopados outra vez. Mas agora a culpa maior era do cheiro do mosto.
Pela tarde começava o mais difícil. Era preciso criar apetite para os braços da atarraxa puxar para daquelas cascas todo o sumo tirar.
O mosto enchia cântaros, tonéis e pipas. E aquele “néctar dos deuses”, lá ficava a fervilhar até ao dia do São Martinho.
Era neste dia, com a bênção deste santo que se provava o vinho novo.
E nos dias mais próximos era uma alegria! Não havia lugar a tristezas. Toda a gente, homens e mulheres, esqueciam as maleitas e as agruras do dia-a-dia da vida.
Naqueles tempos, era árdua a tarefa da lavoura. Sem horário certo, a jorna, normalmente era controlada pelo, _ sol – a – sol.
Quem, para si mesmo trabalhava, esse horário pela noite ou madrugada prolongava. Nas regas ou outras tarefas, a fresca aproveitava porque a caloraça tréguas não dava.
Era árdua a tarefa, amargo o viver. Mas, por incrível que pareça o povo ainda arranjava vontade para cantar e dançar.
Eram ranchos de gente a labutar: no amanhar da terra, a mondar, __a arrancar ou chacholar as ervas daninhas para a cultura medrar.
Eram tempos em que as aves sempre rondando, para algum bichito ou verme aproveitar, ou talvez até para daqueles alegres cantar algo aproveitar.
Ó que saudade daqueles tempos. Tempos das vindimas, das pisas e lagaradas. Ó que saudade daqueles tempos, tempos idos, tempos de outrora , tempos que já lá vão !
Agosto de 2007
Que estas
Palavras
Em forma de dedicatória escritas
E a ti dedicadas
Que essa vontade
Esse querer
Nesse longo
Caminhar no trilho
Do aprender
Que esse chegar
Seja apenas o curvar
Da curva
Do fim da rua
Que o corte
Da meta
Dessa
Etapa
Por fim sejam o Bálsamo
Curador
O tónico
Rejuvenescedor
O Impulso
Continuador
Que por fim tudo seja compensado
Com muita saúde e sucesso
Para continuares vida fora a aprender
Aprender até morrer.
Agosto de 2007